quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Cadernos

Reparo agora que eu me minto. Eu vivo e desenho o que sonho e o que sinto. Tenho milhões de cadernos começados, raros são os finalizados. Cada um deles conta uma história, e somente hoje reparo nisso. Observo, como alguém distante, enquanto o meu corpo rasga qualquer pedaço de ti nas minhas páginas, no meu caderno. Passo para a pele dos meus amigos imaginários, e um deles controla-me o corpo e, como uma obsessão compulsiva, procura restos de ti em todas as linhas. Não tem medo e despedaça memórias, meros desenhos, meras linhas nos meus cadernos, e assim obriga-me a afastar-me de ti completamente, como pegar numa borracha e apagar o meu erro de uma vez por todas. As marcas ficam no papel, mas serão boas cicatrizes que me permitem olhar em frente e não para o chão, que permitem descobrir os ciclos na minha vida. E é hoje que reparo que o caderno em que escolho sonhar é sempre o mais correcto, mesmo que não o perceba no instante,  e sei que eu terei que lidar com a verdade por detrás das metáforas que o lápis na minha mão traça. Os meus cadernos são meras ervas daninhas, que eu escolho deixar viver e crescer, para serem arrancadas mais tarde. Cada um deles com um tema, destinados a nascer, crescer e a morrerem nas minhas mãos.

"Quando reparei em ti, tinhas um buraco no coração."
2008

Um comentário:

Rute disse...

"Quando reparei em ti, tinhas um buraco no coração." .. <3

Este texto fez-me tanto sentido agora... **** Tequilla rules! ***