sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Metro

O rapaz virou-se para o lado, à porta do metro, onde eu o pude ver com mais clareza. Era tímido, tinha até uma forma de vestir peculiar, interessante, piercing no lábio, coração nas mãos. Eu tentei não suster a respiração para que ele não reparasse em mim, como alguém normal faria, passar ao lado dele sem reparar. Mas o coração sangrava demasiado, inundava o chão de um odor peculiar. O odor de um amor perdido, não remendado, não sarado. A cicatriz que ocupava a minha visão era doce. Mas o doce do carvão, negro de origem.
Sustive a respiração no olhar dele. Não foi de propósito, foi de coração. Sentimento adormecido, morto e rescaldado. Mas ele reparou. Reparou e estendeu as mãos para mim. Logo para mim! Eu, que nada sei. E o coração sangrava mais. Cada vez mais. E tornei-me frio nesse instante. Pedra gelada de sentimentos que pulsavam em mim. Mas deixei-me ficar. Por inconstante também ser. Por individualista me transformar, pela dor desvanecer dos olhos dele. E acreditei. Não mais.

Um comentário:

Adomnán disse...

Quem diria que antes tinhas tanta dificuldade em transpor para palavras coisas assim? Muito bem, me likes very much :)