segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Le mois de mai s'est joué de moi"

Havia uma folhinha pequenina. Uma folhinha apenas, um ponto de crescimento numa árvore. Ela pensava que não poderia ser grande, nunca chegaria a ser grande como as outras. As outras folhas em seu redor. Mas ela enganou-se. O tempo foi passando, e ela percebeu que afinal... Afinal ia ser grande como as outras. Madura, permitindo o crescimento da árvore que lhe dera origem. E ela pediu desculpa. Uma desculpa minúscula no meio de tantas outras folhas que, como ela, erraram ao pensar que nunca seriam grandes. E essa desculpa, não foi uma coisa grande nem pequena. Foi apenas a que se encontrou perdida.
Enquanto envelheceu, a folha percebeu, de uma vez por todas, que afinal não tinha que pedir desculpa. Sentia... Sentia outras coisas que eram mais reais que a desculpa. Ela sabia exactamente o que era que sentia. Mas nunca, nunca disse nada. Fechou-se em si própria e permitiu que a árvore lhe tirasse o que precisava no último fôlego que ela tinha. A morte do dia não lhe permitiu mais respirar nem fotossintetizar. Mas soube nesse instante que afinal não era diferente das outras folhas. De nenhuma delas. E que mais havia a fazer? Seca no chão, permitir-se o último encontro com o solo que um dia lhe deu origem. Algo mais tinha para fazer, mas isso... Isso fica para um dia que corra mal enquanto se desfaz.

Obrigado, entendido, completamente percebido. Assim sei.

3 comentários:

Ana Pena disse...

Axo que foi o texto mais lindo que escreveste. Axo que a vida inteira de uma pessoa podia caber nessa folhinha...sempre a nascer e a cair no chão seca ... está muito muito lindo. um beijo profundo na tua folhinha perdida.

Anônimo disse...

:) É bem verdade o que escreveste. Mas pequeno ou grande, cada um de nós é uma folha importante na árvore. E mesmo quando caímos ao chão, enquanto se desfaz, serve de adubo a outras árvores em crescimento.

É tudo um ciclo...

GotchyaYinYang disse...

Muito bonito mesmo. Beijinho grande!