sábado, 13 de outubro de 2007

Lápis

Peguei num lápis daqueles velhos, dos que tinha ainda dentro do estojo com que escrevia na primária. Peguei nele, já gasto de tanto escrever e desenhar, e roido na ponta como qualquer lápis que tenho. Experimentei numa folha com linhas, de um caderno que tinha mais à mão, ainda escrevia bem. Era HB e desfiava-se com alguma precisão no papel. Pareceu-me o certo para rabiscar mais um pouco, esmagar grafite na celulose que começava a ficar amarelada. E o que fiz eu? Uns olhos, olha a novidade. Uns olhos com sombras, com linhas simples mas expressivas. Esse olhos expressivos nada me disseram, até que os completei com uma cara que me dizia exactamente o que eu queria e quero. Nunca descortinando o que queria na altura, fechei-me dentro dessa personagem tímida e simples, e no escuro imaginava um mundo diferente daquele que existe. Nunca foi muito no escuro, foi também de dia, em todos os momentos, até deixar entrar alguém. A personagem deixou de se instalar na minha mente, e de noite sonhava com caminhos, com cenários teatrais fechados sobre si mesmos, onde cada personagem tinha o seu papel principal. Como cada papel nunca fora ensaiado, nunca houve qualquer erro de cada interveniente. E mesmo assim continuo a sentir cada teatro um mundo novo por descobrir, cada bocado uma gota no oceano.

'When you love something, you love it with all your strenght. Each time you lose something you love, you lose a piece of you.'